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O acordo a que, no dia 19 de Outubro, chegaram os 27 reunidos em Lisboa e que ficará conhecido como o «Tratado de Lisboa» vai ser assinado no próximo dia 13 de Dezembro. Para entrar em vigor torna-se depois necessário que o mesmo seja ratificado por todos os países membros; mas, desconfiados da capacidade popular para avaliar tão difíceis documentos, os doutos eleitos europeus, para não terem os mesmos resultados dos referendos de 2005 na França e na Holanda que disseram «não» à Constituição Europeia, tratam agora de fazer aprovar o Tratado através do Parlamento.
Tomando como exemplo o caso português, verificamos que os referendos acabam por conduzir à vontade dos proponentes, pois, se o resultado não é o esperado, considera-se não vinculativo e apresenta-se uma nova versão retocada a fim de conseguir «a reposta certa» como se viu no referendo ao aborto.
Não me agrada nada esta forma de fazer política em que o povo só serve para ser explorado e, ou muito me engano ou a regionalização também há-de ser decidida sem recurso ao referendo. Oxalá que, com o argumento de que as pessoas não sabem fazer bem as cruzinhas nos boletins ou que é preciso reduzir a despesa, o direito ao voto não seja esquecido!
Só me apetece dizer: estes políticos são «um tratado»!
O silêncio é uma árvore
que nem sempre encontramos...
É no silêncio que desfruto
da paz calma do entardecer
e é assim que escuto
o que tens para me dizer.
Quando começa a cair
a noite , o silêncio avança
e faz nascer a esperança
se o soubermos ouvir.
Nesse silêncio sem fim
bem perto do infinito
olho para dentro de mim,
analiso e reflicto.
Até ser contrariado
fica a minha opinião:
antes silêncio pesado
que a mais leve solidão.
O silêncio é uma árvore
que produz fruto às vezes…
Assim que chego à feira,
ouço bem perto de mim
alguém explicar a maneira
de melhor negociar
e a conversa era assim:
Primeiro pergunto o preço
do que pretendo comprar,
mas depois só ofereço
metade desse valor,
pois quanto mais regatear
mais convenço o vendedor.
Muito cedo nesse dia
começa a barulheira
dos ferros que servem de espia
às tendas da feira.
Ciganos e vendedores
em barracas lado a lado
tentam esquecer os valores
aprendidos no passado.
Há botas de cano alto,
sapatos de borracha
que nem precisam de graxa
uns rasos outros com salto,
sandálias e sapatilhas,
pantufas e chinelas
esperando em pilhas
que alguém olhe para elas.
O homem que trabalha a lata
mostra o que fez, feliz,
numa oficina pacata:
facas, foices e funis,
cântaros, garfos e potes,
armadilhas para toupeiras,
navalhas, limas, serrotes.
candeias, chaves e pinchos,
apanha figos, caldeiras,
pás, ferradas e acinchos.
A maior parte das tendas
vende pronto-a-vestir
e eu presumo que as vendas
estejam sempre a subir.
Com tanta gente a comprar
parece que a vaidade
tanto se pode encontrar
na aldeia e na cidade.
Lá de tudo se faz venda:
pijamas, toalhas lisas,
calças de ganga e fazenda,
mantas, peúgas, camisas,
tapetes e cobertores,
calções, casacos, cartolas,
gorros de todas as cores,
fatos de treino, estolas,
cuecas, meias, collants,
lenços, T-shirts, bonés,
fitas, cintas, soutiens,
vestidos até aos pés,
saias compridas e minis,
luvas de pano e pelica,
fatos de banho, bikinis,
camisolas do Benfica.
O homem dos gelados
vermelho como um tomate
apregoa entusiasmado:
- Há fruta, há chocolate,
há morango e baunilha
e há outros com pastilha!
Nunca param de tocar
os CD’s e as cassetes
na tenda do Zé das Iscas
onde se podem comprar
guarda-chuvas, canivetes,
luvas, cachecóis às riscas,
malas, cintos, aventais,
muitas outras coisas mais.
Já na tenda dos louceiros
vendem-se vidros e barros:
copos, chávenas, saleiros,
vasos, canecas e jarros,
potes, pratos e bacias.
Mas a chegada dos plásticos
Acabou com aqueles dias
de negócios fantásticos.
O cheiro a carne assada
em fogareiros de brasas
entra forte pelas janelas,
invade rápido as casas
(febras e entremeada,
costeletas e costelas
sobre fatias de pão
de trigo, broa e centeio)
e chama a atenção
dos que andam em passeio.
tomates e beringelas
aqui vendem-se aos centos
e às vezes às molhadas,
quer com fitas amarelas,
quer azuis ou encarnadas.
Era tanta a freguesia
que antes do meio-dia
já estava esgotada
toda a mercadoria.
Voltam, entusiasmados,
Os vendedores mais cedo,
muito mais aliviados
e com os bolsos mais cheios
não revelando o segredo
nem sequer em devaneios.
Vêm sacas das montanhas
de amêndoas, amendoins,
avelãs, nozes, castanhas
e outros frutos afins.
Vêem-se muitos ciganos
nas feiras e nos mercados
marroquinos, indianos
e gente de outros lados.
São relógios digitais,
também rádios a pilhas,
câmaras para filmar
a preços tão especiais
que fazem desconfiar,
telemóveis maravilhas,
lanternas e fitas métricas,
leitores de mp3
e ferramentas eléctricas
que não duram nem um mês.
Numa bancada de ripas
e com um pano cinzento
vi um judeu vender tripas,
sal, cominhos e pimento.
Queijo de cabra e de ovelha
meio fresco ou bem curado,
chouriça, mouro, morcela,
mais o presunto salgado.
Como bom conhecedor
da psicologia humana
assim fala o vendedor
da dita banha da cobra
que, diz, a ninguém engana
e na carrinha desdobra
um vistoso edredão:
-Quem levar esta pechincha
não paga cem nem noventa
e oitenta também não,
paga apenas setenta
e leva, como oferta,
um pincel e uma trincha,
um lápis, uma sebenta,
um chapéu e uma coberta.
E é ver como as pessoas
com o dinheiro na mão
agarram «as coisas boas»
e «aproveitam a ocasião».
Será falta de juízo
ou algum estranho mal?
Levam o que não é preciso
e pagam mais do que vale.
Fumador de cigarrilhas,
o ourives vende ouro e prata
(brincos, fios, gargantilhas,
alfinetes de gravata,
meias libras esterlinas,
colares, anéis de noivado,
pulseiras grossas e finas,
cruzes com Cristo pregado)
e sossega o cliente:
- Isto não é pechisbeque,
tem o contraste na frente,
dura uma vida inteira
e pode pagar com cheque
caso o meu amigo queira.
Terminada a ladainha
atira a beata ao chão,
mete as peças na caixinha
sobre um fundo de algodão.
E já ao entardecer,
mesmo antes do sol-posto
começam a recolher
tudo o que tinham exposto.
Ficam ruas inundadas
de caixas, sacos, papeis,
cascas, plásticos, cordéis…
São montes de porcaria,
e testemunhas caladas
dos negócios do dia.
De novo se ouvem ferros
a bater e também berros
de dois homens na avenida.
Com certeza é o efeito
de experimentar a eito
vários tipos de bebida.
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