. Afinal quem está a mentir...
. Alcântara e os contentore...
. Manifestação dos professo...
Na época natalícia somos contaminados por uma espécie de vírus de origem desconhecida mas cujos sintomas já eram descritos no século passado: compras compulsivas com utilização de reservas monetárias e desenfreada utilização do cartão de crédito que nos põe as economias no vermelho. Há quem lhe chame «febre consumista» e a ataque como se fosse altamente contagiosa e letal, não com quaisquer antibióticos ou antivirais mas com uma moralidade que lhe advém do facto de ser uma pessoa de tal forma poupada que é conhecida na vizinhança por «unhas-de-fome».
Sem querer ser médico especialista e receitar medicamentos a torto e a direito, parece-me que, se ninguém comprasse ninguém receberia, pelo que os olhos das crianças não se iluminariam de espanto e alegria com as prendas e esse seria um prejuízo irreparável.
É certamente necessário haver moderação mas não é nas compras, é na distribuição. Já repararam quantas pessoas ficam sem prendas no Natal? E quantas não têm o mínimo para sobreviver durante o ano inteiro?
É verdade que muitas pessoas não se preocupam com a utilidade dos presentes, sendo capazes de oferecer um frigorífico a um esquimó ou uma caneta a um analfabeto, desde que seja «de marca». Desconfio que, ao contrário do comércio tradicional, as lojas dos chineses tiveram um natal em grande!
Para aliviar da tensão e bem dispor para novas oportunidades de compra que aí virão, divirtam-se com o texto que se segue.
Um dia o Pedro Cardina,
esforçado costureiro,
recebeu na oficina
um visitante estrangeiro.
Este, ao ver a obra feita
tentada vender em vão,
prometeu dar a receita
em troca de comissão.
Também o Luís Botão,
um competente maleiro,
fazia tudo à mão
mas não ganhava dinheiro.
Sem estar à espera, um dia
ofereceu-lhe um comprador
por toda a mercadoria
só metade do valor.
mas, como tinha que comer,
pôs o orgulho de lado
e acabou por ceder.
As carteiras e as malas
que eram feitas pelo Botão
só podem hoje encontrá-las
em Paris ou em Milão.
E a roupa que lá na aldeia
fazia o pobre Cardina
deixou de ser velha e feia
para ser moderna e fina.
Ninguém, penso, imagina
que houve esta alteração:
o Cardin era Cardina
e o Vuitton era Botão.
Com esta explicação parca
se prova mais uma vez:
por trás de uma grande marca
está sempre um português.
Gritemos, pois, com afã:
o que é nacional é bom!
Viva o Pierre Cardin
e também Louis Vuitton!
No presépio colocados
não há ricos ou banqueiros,
políticos, deputados,
doutores ou engenheiros,
nem polícias nem soldados.
Toscas figuras de barro
por caminhos de areia
dirigem-se para a gruta
em noite de Lua Cheia.
Vêem-se muitos pastores,
um latoeiro também,
todos seguindo o caminho
que os leva a Belém.
O burrinho carregado
com taleigas de farinha,
uma velhinha à janela
conversa com a vizinha.
Nos presépios mais modernos
também já se podem ver
os mais diversos engenhos
todos eles a mexer:
roda sem parar a nora,
desce e sobe o picanço,
gira a roda do moinho
dia e noite sem descanso,
abre e fecha o harmónio,
sem cessar sega a ceifeira,
cava, cava o campónio,
amassa o pão a padeira.
Era no vão da janela
que o presépio era montado.
Construía-se um cenário
deveras acidentado
depois tudo se cobria
com musgo esverdeado;
das montanhas escorria
um ribeiro prateado
em cima do qual havia
sempre uma ponte romana.
Bem no centro colocada
uma pequena cabana
onde a família sagrada
encontrara seu abrigo
e um anjinho oscilante
a protegia do perigo
dia e noite vigilante.
Façamos nós hoje então
um presépio interior
enchendo o coração
de muita paz e amor.
Presépio, evocação
do divino nascimento
num estábulo onde estão
uma vaca e um jumento.
Como não havia quarto
para a sagrada família
José assistiu ao parto
toda a noite em vigília.
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