Sexta-feira, 25 de Abril de 2008
Há já bastante tempo que não escrevo nada neste espaço, primeiro porque estive sem net vários dias, depois porque a ligação tem andado tão má que quase se torna impossível a sua utilização (mas a mensalidade não diminui) e finalmente porque tenho andado com pouca disposição; porém hoje, dia de aniversário deste blog, sinto-me na obrigação de dizer alguma coisa e o que tenho para dizer não pode deixar de ser relativo ao 25 de Abril. O 25 de Abril foi um dia inesquecível que jamais se deve apagar da nossa memória; abriu as portas da liberdade de expressão e associação, legalizaram-se os partidos políticos, terminou a guerra colonial… Estas mudanças acabariam por acontecer mais cedo ou mais tarde, mesmo sem a intervenção do MFA; aliás convém dizer que os militares de Abril desencadearam um golpe militar (estavam descontentes os capitães do quadro porque os milicianos progrediam mais rapidamente na carreira) e não um golpe político. Não admira por isso que esteja ainda por cumprir o 25 de Abril social. Se antes havia as grandes famílias que dominavam a economia e indirectamente o poder, hoje elas foram substituídas pelas grandes empresas e grupos económicos (veja-se quem está por trás delas). Se hoje somos um país mais desenvolvido isso deve-se, além do natural progresso decorrente do evoluir do tempo, aos fundos comunitários e aos impostos que carregam, sobrecarregam e quase esmagam uma classe média cada vez menos numerosa e menos florescente. Será possível aceitar-se uma discrepância tão grande de vencimentos entre os cidadãos de um mesmo país? Será isso uma inevitabilidade? Este assunto veio para as páginas dos jornais por influência do presidente da República mas depressa caiu no esquecimento porque não interessa a quem governa (e certamente também a quem escreve, pois caso contrário manteriam o assunto em discussão). Para que o 25 de Abril se cumpra não pode haver um fosso tão grande entre pobres e ricos, não pode haver listas de espera e negociatas de médicos na saúde, não pode haver uma justiça lenta e só ao alcance de quem pode pagar, não pode haver desemprego galopante (mesmo com a promessa do Judas Sócrates da criação de 150000 empregos), não pode haver escolas sem educação e sem reprovações, não pode haver um governo que venda a sua alma e o corpo dos seus eleitores só para que o maldito deficit seja controlado. Com políticos como os que temos e com as medidas que tomam, sempre a prejudicar quem menos pode, não restam dúvidas que se torna imperioso, urgente e absolutamente indispensável que uma nova revolução surja, mas para que não seja aproveitada pelos oportunistas, só terá consequências se surgir do povo.
Terça-feira, 1 de Abril de 2008
Sai do adro a procissão
para dar a volta à vila.
À frente vai o guião,
atrás os homens em fila.
Seguem depois os andores
e que lindos eles vão,
o da Senhora das Dores
e o de S. Sebastião.
O que tem mais esplendor
vai rodeado de anjinhos
e mostra Nosso Senhor
com a coroa de espinhos.
Sob o pálio o prior
com o Santíssimo nas mãos.
Ao passar o Redentor
ajoelham os cristãos.
A banda muito afinada
vai marchando a compasso
e a música tocada
soa forte no espaço.
O mordomo de bastão
procura a ordem manter
e todos com devoção
vão cumprindo o seu dever.
As ruas estão enfeitadas
com colchas de muitas cores;
de varandas e sacadas
cai uma chuva de flores.
Saem roupas dos baús
onde estavam a aguardar,
que a festa da Santa Cruz
é famosa e singular.
Não param de repicar
os sinos no campanário
como que a festejar
um evento extraordinário.
Sobem foguetes no ar,
o povo canta hossanas
e os garotos sem parar
correm a apanhar as canas.
Há quem venha ver a festa
para tirar fotografias
e diga que como esta
não há outras romarias.
É uma festa concorrida,
que a outras pede meças;
uns vêm pela comida
outros para pagar promessas.
Está de regresso o cortejo
e muitos cheios de fé
manifestam o desejo
de um dia virem a pé.