. O BPN
. A crise
Ouvi na semana passada o prof Marcelo, referindo-se a Sócrates e às facilidades encontradas para conseguir na Moderna o diploma de engenheiro ou para comprar o seu apartamento no edifício Heron da Rua Castilho a cerca de metade do preço de mercado, atribuir esses factos apenas à sorte e considerou-o um Chico-esperto.
Durante a semana foi noticiado o negócio entre a CGD e Manuel Fino em que o banco do estado terá comprado ao empresário acções por um valor superior em 62 milhões ao valor em bolsa, com a possibilidade de as voltar a adquirir mais tarde pelo mesmo valor se elas se valorizarem. Não o disse Marcelo mas digo-o eu: à semelhança do outro, este é um Manuel-finório!
É talvez por isso que continua a haver tantos Zés-ninguém.
A crise bancária aí está, profundamente instalada e sem que ninguém saiba quando terminará. É tempo de reflectirmos sobre tudo o que se passou e tentarmos perceber como se chegou a este ponto.
Não foram as aplicações feitas em nome de particulares por gestores de topo dos bancos que arruinaram o sistema bancário. Se muita gente deu ouvidos ao canto da sereia dos lucros mirabolantes prometidos, isso não trouxe danos aos bancos pois o capital não era deles. O problema é que os bancos, por natureza gananciosos, não se limitaram a uma actividade bancária normal, ganhando a diferença entre o que pagavam aos depositantes e o que recebiam dos empréstimos que efectuavam e começaram também eles a utilizar o capital dos depositantes, quando não contraíam empréstimos internacionalmente, para também «jogarem» na bolsa e fazerem mais valias enormes de um dia para o outro. Deu no que deu.
Depois dos problemas no BPN é agora o Banco Privado Português, para muitos desconhecido até há poucos dias, a confessar debilidades e a solicitar um aval ao estado. Se a nacionalização do BPN causou alguma estranheza, a intervenção do governo neste caso só se compreende à luz da afirmação de Sócrates de não deixar falir nenhum banco português. Habituados que estamos às mentiras do primeiro-ministro, que prometeu não aumentar impostos e criar 150 mil postos de trabalho, bem poderia continuar a faltar à verdade que, neste caso, até acharíamos positivo.
Alguém consegue explicar por que razão vai o estado meter o dinheiro dos pobres que pagam impostos no banco dos ricos que tudo fazem para os não pagar?
A história do BPN ainda não foi contada e talvez até nunca venha a ser, porque vivemos num país de brandos costumes onde os mais poderosos são protegidos e a justiça se mostra forte com os mais fracos. Sugiro a leitura de um artigo de opinião publicado no Correio da Manhã de hoje.
Depois do BCP surge agora um novo caso com um banco, onde se passam «coisas estranhas» e não detectadas pelo Banco de Portugal.
Parece que os problemas do BPN são conhecidos desde 2003, mas apesar da sua divulgação na imprensa e dos relatos das auditorias, o Banco de Portugal afirma que os indícios existentes não lhe permitiam intervir; no entanto o ministro das Finanças foi obrigado a nacionalizá-lo, o que mostra a gravidade da situação. Se o senhor governador, que se «governa» com dezassete mil euros por mês, mais uma vez não se apercebeu de nada, é porque é incompetente e por isso deve abandonar o cargo.
Quando, após o 11 de Março de 1975, se nacionalizou a banca, não faltaram críticas de todos os sectores contra o PCP. Passados 33 anos uma nova onda nacionalizadora que alastra pelo mundo chega ao BPN e ouvem-se aplausos dos que antes criticaram. Parece que afinal os comunistas tinham razão.
Volta, Vasco, que os camaradas já te perdoaram!
Crise é uma palavra tão familiar no nosso dia a dia já há tanto tempo que o anunciado aparecimento da «crise financeira internacional» não nos surpreende nem aflige; não deixa de ser curioso, todavia, que os políticos, que fizeram orelhas moucas ao desespero dos cidadãos com dificuldades em pagar a prestação da casa ao banco, tenham acorrido pressurosos a anunciar medidas para salvarem esses mesmos bancos. O controle do défice deixou de ser prioridade e o dinheiro que antes não havia apareceu agora como por artes mágicas..
Numa altura em que a globalização enche a boca de políticos e economistas, a fome alastra, os recursos naturais são delapidados a uma velocidade vertiginosa e o sentimento de felicidade tende a desvanecer-se, aqui está um video que dá que pensar.
Apesar de ter origem nos Estados Unidos, está legendado em português e pode dizer-se que tem aplicação universal pois todos vivemos na mesma «casa» e o futuro do planeta depende de todos.
Para ver, rever e partilhar.
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